tag:blogger.com,1999:blog-7170410321632942862024-03-13T14:47:16.831-07:00mariaclaramariacaiahttp://www.blogger.com/profile/06263772495789947857noreply@blogger.comBlogger2125tag:blogger.com,1999:blog-717041032163294286.post-80125240658756751602021-05-01T18:43:00.004-07:002021-05-01T18:50:46.892-07:00Queria só deixar registrado um momento de beleza que enxerguei mesmo com esse gosto pandêmico amargo na boca. Meditar é algo que habita todas as minhas listas de resoluções de final de ano, daquilo que um dia quero muito fazer mas (uso a desculpa da) falta de tempo. Ocorre que ontem, percebi que todas as noites, enquanto coloco o Antônio para dormir, eu já medito. Funciona assim: vou botá-lo para dormir e tudo que eu queria lá no fundo era justamente não precisar botá-lo para dormir. A famosa preguiça. Mas lá vamos nós. Temos o nosso ritual que é atualizado de tempos em tempos, e na minha visão leiga, já é uma parte importantíssima da prática: o hábito. Deitamos à meia luz, lemos um ou dois livros, os assuntos vão brotando. Escola, amigos, as mágoas, as faltas, as alegrias, as bobices. Quando estamos animados (lê-se, Antônio sem sono) ainda temos um segundo round, que é uma espécie de teatro de fantoche de sombra, no qual os personagens (cachorro, cobra, pássaro - vulgo me, myself and I) passam para dar um alô e desejar boa noite. Quando percebo que a brincadeira está esticando demais, sou tomada por uma pressa furiosa. Quero apagar as luzes e voltar pro jantar, pro trabalho, pro xixi, pra conversa de whatsapp, pro que quer que tenha ficado pelo meio do caminho. Quando finalmente consigo, parece que a velocidade da minha 'to do list' fica ainda mais intensa. Sinto ansiedade por ainda estar deitada, soterrada por uma lista repleta de nadas pra resolver da porta pra fora. Ele também nota que está chegando a hora de ceder pro sono, e também fica mais ansioso. E aí acontece o que chamei de meditação: começo a aceitar que é melhor desistir do frenesi das ideias e pensamentos. Acolho que naquele momento o melhor é me concentrar no que está à minha frente, no meu presente: o cheiro, a pele, a voz doce do meu filho que me trazem para esse lugar de sentir-se viva. Me atenho aos seus detalhes: a respiração mudando de ritmo, o barulhinho da boca, as pálpebras estacionando, ele todo bem aos pouquinhos entrando nesse estágio perfeito de transe, antes de embarcar no mundo dos sonhos. Eu cedo, me entrego. Esse instante é, então, sublime, abstatro. Estar aqui é só o que importa.caiahttp://www.blogger.com/profile/06263772495789947857noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-717041032163294286.post-3510913373632721552021-04-23T19:18:00.010-07:002021-04-25T07:29:54.210-07:00
Meu nome é Maria Clara. Às vezes sou mais Maria, outras mais Clara. Clareza é algo que com certa frequência me falta, mas a cada dia sinto que me aposso de ser Clara. Li em algum lugar que “às vezes” é uma expressão bonita, porque nos ajuda a escapar de ver a vida polarizada, oito-ou-oitenta. "Vai ver que felicidade é às vezes" dizia o personagem do livro. Não precisamos estar sempre em um dos lados opostos da balança (não me refiro à política, nesse caso precisamos). Voltando ao inicio, quando eu era criança, odiava meu nome. Desde pequena, lembro de me queixar com a minha mãe. Dizia sem dó nem piedade que feliz eu seria se me chamasse Patricia, Priscila, Adriana ou Carol. Minha mãe, tadinha, ficava para morrer, ainda tentava se explicar, mas no fundo, eu sentia que ela seguia confiante com a sua escolha. -"Quando fizer 18 anos vai no cartório e muda", ela dizia e eu tomava como certa a ideia. Não tenho nada contra os nomes que citei, mas com o passar do tempo, fui aprendendo a gostar do meu. Primeiro gostei de ser Clara, mais do que Maria. Porque seguindo minha linha de pensamento infantil, Clara remetia à leveza, enquanto Maria tinha muito mais corpo, Marias eram maioria. Sendo Clara, acabei virando também Escura, Ovo, Gema. O bullying começa cedo. Mas Clara também tinha seus derivados carinhosos. Fui/sou com orgulho Clarinha, Cacá, Clarilda, Clarinda, Cacaia, Caia, Clau, Claudia, Clair. Mais tarde, lá pelos vinte e poucos, finalmente fui tomando gosto de ser Maria Clara. Descobri que eu tinha um nome lindo, potente, sonoro. Passei a amar ser Maria sozinha, Maria entre tantas, Maria e seus apelidos, Mary, Marie, Marieta. De repente, era eu também. Tudo isso é só pra dizer que ter nome duplo dá um trabalho danado, mas no fim das contas é bom, porque te permite usufruir de uma dupla, às vezes tripla, identidade. A Maria é diferente da Clara, que também é diferente da Maria Clara (Maria Clara mesmo só pai/mãe puto da vida, vocês sabem). Eis que hoje, do alto dos meus 30 e muitos, tenho observado com novos olhos minha metade Clara. Tenho dado mais valor ao lugar que a clareza deve ocupar na minha vida. Se antes eu fugia do que não era cristalino, hoje eu tento encarar de frente. Quero ver a luz entrar. Quando sinto que dá pé, mergulho. Mergulhar é me conectar com o que se sinto, me perceber sendo, recuar quando consigo ou acho que devo; é lidar com sentimentos inexplicáveis e indesejáveis. Ser Clara hoje em dia é poder me olhar no espelho e enxergar o que sou, do tamanho que sou. Sem as muitas camadas de idealização do meu próprio ego e sem as desculpas revestidas em insegurança ou timidez, essas histórias que gosto de contar para mim mesma. Eu sou essa Maria Clara que deseja se importar cada vez menos o nome que irão me chamar.
Ps: tentei escrever sobre algo diferente para sair da rotina dos meus morning pages. No entanto, apesar de tê-lo feito, a minha vontade era interromper a todo instante o que eu mesma escrevia proferindo julgamentos às minhas palavras. Essas são as palavras que eu consegui juntar hoje. Elas dizem algo, talvez não dá melhor forma. Para melhorar, preciso de duas coisas: ler e exercitar a escrita. Por isso, estou aqui. Eu entendi que escrever é fundamental, mesmo sem trabalhar diretamente com texto. Entendi que a confiança na minha escrita é o que pode alimentar não apenas o meu vazio existencial, o que já seria bastante, mas também a minha auto-confiança e criatividade. Não é fácil. Preciso ter humildade para praticar e disciplina para perseverar. Hoje tenho todas as desculpas que preciso à mão para não me movimentar, mas não quero mais usá-las em vão. E ainda que a escrita não seja o meu oficio, eu tenho a sensação que aprender a escrever bem vai me livrar de algumas amarras que eu carrego comigo desde muito cedo. A ver. Tomara.
caiahttp://www.blogger.com/profile/06263772495789947857noreply@blogger.com0